O ex-presidente Michel Temer (MDB) assumiu o cargo mais importante da República como consequência de um processo de impeachment que abreviou o mandato de Dilma Rousseff (PT) no comando do país, o segundo impedimento desde a recente democratização do Brasil. Apesar de o mecanismo ter alçado o emedebista ao poder máximo para um político, Temer mostrou-se um crítico a esse mecanismo neste momento.
“Não dá mais para aguentar essa história de a gente ter impeachment toda hora”, disse. “A nossa Constituição é adolescente, vai fazer 33 anos daqui a pouco, e [nesse período] já tivemos dois impeachments. Se eleito outro presidente, logo vai começar uma nova campanha pelo impeachment. Não dá mais para viver em um país que só pensa nisso”, afirmou.
Temer reconheceu que as manifestações populares engatilharam a derrocada do último governo petista, mas ao fazer uma leitura do cenário atual disse que não enxerga paralelos nem um ambiente favorável ao impeachment e consequente afastamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Não vejo pessoas vocacionadas a decretar o impeachment do presidente. Isso dependeria, naturalmente, do gesto do presidente da Câmara dos Deputados. E eu não vejo essa tendência de deflagração do processo de impeachment”, assinalou.
Reconhecido pela capacidade de dialogar com representantes de diferentes matizes ideológicas, Temer disse que tem conversado com muitos agentes políticos em busca da construção de uma alternativa a candidatos que representem os extremos. Embora em franca atividade, o ex-presidente afastou, por ora, o desejo de concorrer a qualquer cargo nas eleições de 2022.
“Há um movimento muito intenso da chamada coluna do meio ou terceira via”, pontuou. “Para o eleitorado é útil, porque o ruim é não ter opção: ou A ou B. Não é útil para a democracia”, afirmou.
Ao comentar a atuação de Bolsonaro, Temer fez duas considerações. Na primeira, disse que o atual mandatário poderia ter se saído bem na condução da pandemia se tivesse assumido um comando unificado do enfrentamento ao novo coronavírus. Na visão do ex-presidente, o titular do Planalto errou ao não assumir esse protagonismo.
A segunda consideração endossa o discurso de Fernando Haddad (PT), nesta semana, de que Bolsonaro é um forte candidato para 2022. “Basta verificar as pesquisas. Por mais que caia, ele sempre está acima de 20%. Isso é uma força extraordinária em matéria eleitoral. Não se pode subestimar a força política e administrativa do presidente”, frisou.
O emedebista ressaltou ainda que nunca foi criticado pelo atual mandatário. “Quando um presidente assume, ele quer logo destruir o anterior. Até devo registrar que o presidente Bolsonaro jamais criticou o meu governo. Interessante. Não tem uma crítica feita por ele. Pelo contrário. No meu caso, ele foi muito correto”, afirmou.
Temer também comentou os recentes deslindes dos processos rumorosos que até pouco tempo respondia na Justiça e que culminaram, inclusive, em uma prisão preventiva. Segundo o ex-presidente, a resposta para o calvário que enfrentou veio “a galope”. “Muito velozmente, a Justiça tem preferido as chamadas absolvições sumárias. Quer dizer, é tão despropositada a denúncia, que só teve objetivo político, que o juiz em oito ou 10 páginas disse que a denúncia era inepta e não ouviu ninguém.”
Durante a entrevista, Temer também falou sobre o andamento da CPI da Covid-19 e as possíveis consequências da comissão no Senado.
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