A política, por vezes, é muito mais um jogo de baralho do que propriamente um de xadrez. Além do rei e da rainha, o carteado tem o blefe, o melé e o ás em embaixo da manga.
E esse jogo, Roseana sabe jogar.
A sua entrevista à TV Mirante, admitindo que pode ser candidata ao governo, foi uma cartada e tanto. A pré-candidatura coloca o seu nome oficialmente na mesa pré-eleitoral.
Até então, os institutos de pesquisa sempre testavam a aceitação da alcunha Sarney, sem que houvesse qualquer sinal de que ela iria participar da rodada.
Desta vez, é diferente. Ela está oficialmente habilitada, como pré-candidata, a constar não só das pesquisas, mas das sequências que envolvem a sucessão do governador Flávio Dino.
A jogada de mestre, no entanto, é outra. O seu nome vai circular em todo o estado e assim, como pré-candidata ao governo, poderá, ao final do prazo, sair candidata a deputada federal, sem perder a majestade!
Roseana, quatro vezes governadora do Estado, sair simplesmente candidata à deputada seria um sinal de fraqueza.
Amparada nas pesquisas que lhe confere a liderança na preferência do eleitorado aos Leões, agora ela terá a grandiosidade de abrir mão da candidatura majoritária para ajudar o MDB a eleger o maior número de deputados federais possíveis!
O gesto de grandiosidade faz parte da jogada. Aliás, não tem outra alternativa. Roseana sabe que a liderança nas pesquisas a um ano das eleições, sem que não tenha cacife para disputar o governo do estado, é uma aposta furada. Em junho de 17, segundo pesquisa Escutec, ela liderava a disputa contra Flávio Dino, por 32,9% a 25,9%. Em outubro de 18, não deu outra, perdeu por 59,29% a 30,07%!
Um outro ponto que assusta a ex-governadora é o tamanho de sua rejeição. Pesquisa Econométrica, que em julho deste ano aponta a sua liderança, 24,6% contra 19,9% do segundo colocado Weverton Rocha, também registra que 42,8% do eleitorado não votaria nela nem que a vaca tussa.
Haveria até como superar tamanha rejeição se o MDB não tivesse entrado em queda livre após a derrota do grupo Sarney em 2014.
Em 2012, com 47 eleitos, o ainda PMDB foi a legenda que mais elegeu prefeitos no estado. Na eleição municipal seguinte, esse número caiu para 23, e na de 2020, quase foi ao chão. Somente 7 prefeitos foram eleitos.
Sem os Leões, sem parentes no Congresso Nacional ou em cargos públicos federais e com pouquíssimos prefeitos eleitos, Roseana não vai entrar em bola hoje dividida entre o senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB).
Weverton está na metade do mandato de senador e o seu partido, o PDT, foi quem mais elegeu prefeitos no Maranhão, 42. Enquanto Brandão irá disputar em 2022, como governador candidato à reeleição.
A entrevista de Roseana ao Bom Dia Mirante, portanto, não passa de uma estratégia publicitária com o objetivo de lançar, ou melhor, de manter o nome de um produto no mercado. Grandes marcas, por mais que liderem o setor, precisam investir continuadamente em propaganda para não caírem no esquecimento.
Destronada em 14 com a derrota do seu pré-posto Edinho Lobão, e só escapando da lapada de 59,29% a 30,07% nas eleições de 18, o sobrinho deputado estadual imberbe Adriano Sarney, Roseana estava cada vez mais reduzida a dar pitacos nas redes sociais.
Em julho do ano passado, por exemplo, enquanto o Maranhão era o sétimo estado com maior número de casos de Covid (119.262 confirmados e 2.996 óbitos), ela, quatro vezes governadora do estado, incentivava a população a não sair de casa, ensinando uma receita de panqueca!