O Globo – Na mira da Polícia Federal em inquérito que apura o desvio de dinheiro público de emendas parlamentares, o deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA) registrou um crescimento patrimonial que superou a sua ascensão na política.
Em 2008, quando tentou a reeleição a prefeito de Maranhãozinho, no Maranhão, Josimar declarou que os seus bens somavam R$ 463,9 mil. Dez anos depois, quando concorreu ao cargo de deputado federal, o patrimônio informado foi de R$ 14,5 milhões. Ou seja, uma alta de 1.652%, em valores já corrigidos no período.
Nas prestações de conta à Justiça Eleitoral, Maranhãozinho tem como costume declarar dinheiro vivo. Em 2014, quando disputou uma vaga de deputado estadual, informou ter R$ 100 mil em espécie. Em 2018, esse valor passou para R$ 1,4 milhão — além de dez consórcios que somavam R$ 254.728.
Devido à sua influência política no Maranhão, o parlamentar foi alçado ao comando do diretório do PL no estado, sob a bênção de Valdemar Costa Neto, manda-chuva do partido. A nível local, Maranhãozinho é tido como um hábil articulador político, que prefere atuar nos bastidores. Nas reuniões internas do PL, o parlamentar costuma se vangloriar de ter conquistado, nas eleições municipais de 2020, o controle político de mais de 40 prefeituras.
O que as investigações da PF têm mostrado, no entanto, é que todo esse poderio político pode ter sido conquistado, ao longo dos últimos anos, por meio de uma relação conflituosa entre o público e o privado. A investigação sigilosa da PF implica Maranhãozinho em uma série de crimes, que vão de peculato a lavagem de dinheiro, passando por organização criminosa e fraude em licitação. Segundo os investigadores, Maranhãozinho usaria o dinheiro desviado para fins particulares, mas também para cooptar aliados.
A PF suspeita que o dinheiro manuseado pelo deputado nas gravações que vieram à tona na última semana seria proveniente de um esquema de desvio de emendas parlamentares, por meio de prefeituras comandadas por aliados políticos do parlamentar. Essas prefeituras, segundo as investigações, contratariam empresas ligadas ao deputado para desviar os recursos. Ele nega as irregularidades.
As alianças políticas de Maranhãozinho sempre foram ecléticas: passam pelo PT, PCdoB e diversos partidos de centro. Isso fez com que passasse a ser reconhecido menos como “ideológico” e mais como “municipalista”, como ele mesmo gosta de afirmar.
Tanta influência fez com que o deputado rompesse relações com o governador Flávio Dino (PSB), com quem fez dobradinha na campanha de 2018, para se lançar como pré-candidato na corrida para o governo do estado no ano que vem.
Mesmo estando na mira da PF, Maranhãozinho continua presidente estadual do partido, contando com a confiança de Valdemar. Mesmo a avalanche de notícias negativas, com a Polícia Federal cada vez mais no seu encalço, Maranhãozinho tem dito que não desistiu da pré-candidatura.
Negócios
O parlamentar costuma se vangloriar de ser um fenômeno nos negócios e na política. Nascido em Várzea Alegre, na Região do Cariri, no Ceará, em 13 de novembro de 1976, Maranhãozinho costuma enfatizar nos palanques e nos discursos que teve uma “história sofrida” antes de virar político e pecuarista. Dessa forma, se apresenta como um empresário e político de sucesso, que começou a trabalhar com 13 anos e, um ano depois, se mudou para Manaus para ganhar a vida como caixeiro-viajante. De porta em porta, vendia cadeiras de fios de plástico, além artigos domésticos. Com 17 anos, já vendia produtos em outros estados do Norte e Nordeste, enquanto montava sua própria rede de distribuição.
Depois de três décadas atuando no varejo, iniciou a carreira política na pequena Maranhãozinho, cidade de 16 mil habitantes a 250 quilômetros da capital São Luís. É daí que vem o seu apelido político. Em 2004, se tornou prefeito de Maranhãozinho, vencendo sua primeira eleição. Naquela época já se apresentava também como pecuarista.
Aos poucos, Maranhãozinho foi ampliando a influência em municípios vizinhos. Em 2008, ele se reelegeu prefeito de Maranhãozinho. Sua mulher, Maria Deusdete Lima, a Detinha, tornou-se prefeita do município vizinho, chamado Centro do Guilherme. Em 2012, José Auricelio de Morais, seu ex-motorista, o sucedeu como prefeito de Maranhãozinho. Naquele mesmo ano, a mulher, Detinha, foi reeleita prefeita de Centro do Guilherme, e o irmão, Aldir Cunha Rodrigues, assumiu o comando da prefeitura de outro município vizinho, Junco do Maranhão.
Em 2015, mesmo ano em que concluiu o curso de Administração por uma universidade particular de São Luís, Maranhãozinho se elegeu deputado estadual pelo PR, cargo que ocupou, até 2019, quando se torna parlamentar federal.