Mesmo levando em conta que a contagem regressiva para as eleições vai durar ainda 14 meses, que o calendário eleitoral propriamente dito ainda não foi iniciado, e ainda não haver martelo batido a respeito das candidaturas para o Palácio dos Leões, um fato já está praticamente desenhado no cenário da guerra eleitoral que se aproxima: o governador Flávio Dino (PSB) caminha com segurança a trilha do favoritismo para a única vaga de senador a ser colocada em disputa em 2022.
Isso porque no horizonte dessa disputa não existe, até aqui, dentro ou fora da aliança governista, nenhum nome – político militante ou outsider – com estatura política e potencial eleitoral para se posicionar como concorrente do atual chefe do Governo do Maranhão, que, na semana passada, em entrevista a uma emissora de rádio, confirmou sua pré-candidatura ao Senado. O seu adversário possível seria o senador Roberto Rocha (sem partido), ocupante da cadeira a ser colocada em disputa, mas ele, ao que tudo indica, não pretende não tentar a reeleição, optando por disputar o Governo do Estado ou entrar na guerra por uma cadeira na Câmara Federal.
Isso não significa dizer que o governador Flávio Dino será candidato único ao Senado. Isso não existe na democracia representativa, na qual o conceito de unanimidade não é nem deve ser visto com bons olhos. O que vale mesmo é o conceito de maioria, porque respeita também o de minoria. Outros nomes deverão se apresentar ao eleitorado para brigar pelo mandato senatorial. Até agora, no entanto, nenhum aspirante com estatura política e potencial eleitoral entrou no tabuleiro da política estadual com essa pretensão. Todos os nomes especulados para essa caminhada já anunciaram outros rumos nessa corrida eleitoral.
O espaço natural de surgimento de um candidato a senador com viabilidade seria o Grupo Sarney. Mas ali ninguém parece disposto a assumir o desafio. A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) chegou a cogitar o projeto, mas mudou de ideia, preferindo ser temporariamente lembrada para o Governo, mas focando na Câmara Federal. O empresário Lobão Filho (MDB) e o ex-deputado federal Sarney Filho (PV) passaram a bola para a frente. Hoje, parte do MDB se inclina para a candidatura de Flávio Dino, enquanto outros segmentos sarneysistas, como o PSD, que acatou a decisão do seu candidato a governador, Edivaldo Holanda Jr., de não lançar candidato a senador.
É provável que, mantida sua candidatura, o prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (PSL), lance um candidato a senador, sem que haja qualquer sinal de que o nome mais importante da legenda no Maranhão, deputado federal Pedro Lucas Fernandes, queira entrar nessa aventura.
Flávio Dino não chegou a essa posição por acaso nem pela via do populismo barato. Sua estatura política, hoje de alcance nacional, e seu potencial eleitoral, mostrado por pesquisas, são o resultado de uma construção politicamente correta, iniciada ainda no movimento estudantil, nos anos 80, solidificada por uma bem-sucedida carreira como juiz federal, e, finalmente, o desembarque na seara político-partidária. Começou como deputado federal (2006), tropeçou na eleição para a Prefeitura de São Luís em 2008 e para o Governo do Estado em 2010. Nos anos seguintes criou as condições políticas necessárias para vencer a eleição de governador em 2014 e se reeleger em 2018.
Em seis anos e meio de Governo, Flávio Dino alcançou dois êxitos indiscutíveis. Primeiro: realiza um governo inovador, voltado para o plano social e desmontando a velha cultura do “mando, quero, faço”, e sem registro de derrapagens éticas. Segundo: comanda uma guinada política radical no Maranhão, desbancando a máquina política do sarneysismo, sem perseguir adversários nem caçar bruxas, realizando uma transição só vista no estado quando o próprio José Sarney desbancou a máquina vitorinista no final dos anos 60 do século passado. Foram sua eficiência como governante e a sua saudável ação política, principalmente de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que lhe deram a estatura política e a viabilidade eleitoral que o tornou o grande favorito para o Senado no ano que vem.
Político militante e movido pelo realismo que determina a dinâmica da política, o governador Flávio Dino admite sua posição de favorito, mas não endossa a tese do “já ganhou”, lembrando sempre de que cada eleição é uma eleição, e que independentemente da condição de favorito, vai mergulhar de cabeça na campanha eleitoral.